O primeiro-ministro, José Sócrates, criticou os manifestantes que no sábado à tarde o apuparam na entrada para a reunião com militantes socialistas.
Na sua desproporcionada indignação, disse José Sócrates: «Nunca tinha visto isto em tantos anos de democracia e considero absolutamente lamentável.»
Pois... José Sócrates não considerou que nós portugueses, também nunca tinhamos visto em tantos anos de democracia e consideramos absolutamente lamentável:
- As políticas implementadas pelo seu governo, com a destruição do serviço nacional de saúde, o estado lastimável em que as cegas reformas do seu governo estão a transformar a educação e a justiça. A crescente desigualdade social como consequência da sua política de benefício aos grupos económicos, um tão grande número de desempregados, tanta precariedade laboral, tão poucos direitos para quem trabalha, tantos portugueses a terem que emigrar para terem direito a uma vida digna ou o roubo descarado nas pensões sociais dos reformados que após anos e anos de trabalho são obrigados a viver com miseras côdeas os últimos anos de vida que ainda lhe restam.
- Nunca em tantos anos de democracia tinhamos visto tão poucos a aumentarem tanto os lucros e tantos milhares a verem as suas condições de vida degradarem-se.
- O encerramento de maternidades e a transformação de ambulâncias em salas de parto ambulantes com as auto-estradas como local previligiado para os nascimentos.
Nunca em tantos anos de democracia tinhamos visto e consideramos absolutamente lamentável:
- Tanta arrogância, tanto autoritarismo gratuíto e tantos ataques à liberdade e à democracia, com intervenções de forças policiais em manifestações legais de estudantes, visitas da PSP a instalações sindicais, a uma tentativa de eliminar os partidos políticos com menos de 5.000 militantes, (embora o governo tenha cedido às pressões e recuado, a intenção ficou bem demonstrada), a constituição de sindicalistas como arguidos pelo simples facto de denunciarem publicamente que com as políticas deste governo, o Vale do Ave está hoje muito mais pobre.
Nunca tinhamos visto em quase 34 anos de democracia e consideramos absolutamente lamentável:
- Que um manifestante tenha sido condenado a 75 dias de prisão porque... pasme-se! participou numa manifestação espontânea exigindo diálogo com o gestor judicial nomeado para a empresa Pereira da Costa, que devido a exercer o cargo em parte-time, não tinha disponibilidade para dialogar com os trabalhadores sobre os problemas existentes na empresa, entre eles o de salários em atraso. Estamos a falar de uma empresa com cerca de 300 trabalhadores.
Nós portugueses, também nunca tinhamos visto em tantos anos de democracia e consideramos absolutamente lamentável:
- Tanta mentira, tanto malabarismo político, tanta falta de respeito pelos cidadãos e tanto marketing para iludir os mais desatentos. A promessas eleitorais de não aumentar impostos e uma prática contrária logo após formar governo. A assumpção de um compromisso para realizar um referendo sobre o tratado constitucional europeu como factor determinante de reforço da democracia e as piruetas utilizadas para dar o dito por não dito e faltar ao compromisso assumido anteriormente eliminando desta forma a oportunidade dos portugueses conhecerem a verdadeira dimensão do Tratado Lisboa, também é inédito em tantos anos de democracia.
- Tantos milhões gastos em estudos encomendados a empresas privados (será que pertencem a alguns amigos?) para suportar decisões ditas inabaláveis e vincadas com expressões como jamais, para depois deitar ao caixote do lixo e mudar radicalmente de opinião, também nós nunca tinhamos visto.
Nunca tinhamos visto em quase 34 anos de democracia e consideramos absolutamente lamentável:
- Um governo decidido e intransigente nas decisões que prejudicam fortemente as classes mais desfavorecidas, os trabalhadores, os reformados, os deficientes, e tão flexivel e disponivel para alterar decisões em que estão envolvidos os lobies do cimento e do betão ou da área financeira.
- Um tão evidente tráfico de influências entre o poder económico e financeiro e o poder político que tem determinado as linhas mestras da política estrutural deste governo.
- Um governo arrogante perante os portugueses e de cócoras para a europa, submisso aos interesses dos grandes paises, aceitando até a entrega de parte da nossa soberania nas mãos da UE.
O que na realidade é absolutamente lamentável, não é a legítima indignação de quem sente no dia a dia as consequências deste mediocre governo PS/Sócrates. É sim, o descalabro das políticas que estão a transformar este país num paraíso do capitalismo fundamentalista e a levar milhares e milhares de portugueses ao desespero que consequentemente tem dado origem aos justificados protestos e acções de rua.
O protesto e a indignação são direitos e obrigações de cidadania. José Sócrates não pode pensar que este país pode ser governado com os mesmos critérios de leviandade e tráfico de influências com que por exemplo se suspeita ter adquirido a sua licenciatura de engenharia. E que perante todo este desgoverno, os portugueses estejam disponíveis para comer e calar.
Não haverá quem explique isto a José Sócrates?
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