"Quem luta, nem sempre ganha, mas quem não luta, perde sempre!"

 
Domingo, 24 de Fevereiro de 2008
A verdade oficial e a verdade oculta (I)

A versão oficial da história e a sua análise para a opinião pública, é em muitos casos aquela que o poder dominante reproduz, que em muitos casos é tão só aquela que o poder dominante convenientemente forja e impôe como única verdade.

Exemplo flagrante podemos encontrá-lo na recente e ainda acesa guerra do Iraque. Centenas de mentiras e complôts serviram de justificação e proporcionaram uma aceitação quase geral da intervenção (agressão) militar americana no Iraque como inevitável e necessária. A verdade, essa é bem diferente. Afinal tudo não passa da defesa dos interesses americanos no médio oriente com o petróleo, a Indústria de armamento militar e a economia americana como suporte de uma intervenção criminosa.

Também no conflito Jugoslavo, a versão mais vendida ao mundo através dos governos, das notícias ou dos excelentes fazedores de opinião que cada vez mais ocupam lugares de destaque na comunicação social, é a de um Estado Sérvio opressor e agressor, a quem se atribui a culpa pelo eclodir do conflito e a responsabilidade por massacres abomináveis no intuito de levar a cabo uma limpeza étnica e transformar a região dos balcãs na Grande-Sérvia.

Temos assim na versão oficial do poder dominante, uma das étnias, a sérvia, ultra-nacionalista, criminosa e suficientemente irracional e primitiva ao ponto de executar massacres e não olhar a meios para levar a cabo os seus objectivos. E ainda... o governante deste estado, Slobodan Milosevic, que era um ditador da pior espécie e que encarnava todas estas características.
Sarajevo, Srbrenica, Vukovar, Dubrovnik ou Racak, são nomes largamente difundidos  para a opinião pública e associados imediatamente a atrocidades cometidas pelos sérvios sob orientação e apoio de Slobodan Milosevic.

Estas versões oficiais são a necessidade de criar um monstro e as suas vitimas, encontrando aí o enquadramento e as justificações para actos e agressões criminosas que tem como principal objectivo o expansionismo capitalista.  Assim, não podemos ficar espantados com o facto de que em simultâneo com a diabolização de uma das partes envolvidas no conflito jugoslavo, se tenha simplesmente silenciado uma outra parte, e uma parte importante, desta história sangrenta.

Franjo Tudjman, um neo-fascista apelidado também de Le Pen Croata ou beato fascista, fundou e passou a presidir a União Democrática Croata em Janeiro de 1989. Este movimento, ressuscita o discurso  nacionalista e conservador que colhe simpatia em alguns sectores croatas. Em Maio de 1990 este movimento ganha as eleições e o Parlamento croata elege Tudjman como Presidente da Presidência Colectiva da Croácia. Ainda em Dezembro deste ano, ao abrigo da nova constituição, Tudjaman assume a presidência da República Croata. Nas suas plavras na tomada de posse, deixou bem vincado o seu pensamento nacionalista e xenófobo, tal como o que se podia esperar para o futuro, quando afirmou:
«Estou contente que a minha mulher não seja, nem judia nem sérvia.»

Tudjman havia publicado um livro em 1989, "Wastelands -Historical Truth", onde entre outras coisas, nega que o número de judeus exterminados durante a guerra de 1939-45 tenha sido da ordem de seis milhões, minimiza a importância do campo de Jasenovac, e afirma que as atrocidades dos ustachi foram "exageradas" pelos historiadores. Vai mais longe e afirma também que a criação do Estado Croata Independente foi "a expressão da história de uma nação croata que sempre aspirou a um reconhecimento pelas instâncias internacionais".

Nos primeiros seis meses de governo Tudjman, algumas atitudes são significativas para o entendimento do que se viria a passar. Começou por mudar os nomes das ruas alusivas a resistentes anti-fascistas e apelidou os sérvios da Croácia como cidadãos de segunda. Em simultâneo, milhares de sérvios são saneados da função pública e centenas de casas e lojas de sérvios são atacadas e destruídas por milícias croatas.
É neste cenário de marginalização e perseguição movida pelos croatas que a região da Krajina (zona da Croácia de maioria sérvia) se declara soberana em 28 de Fevereiro de 1991 auto proclamando-se Região Autónoma Sérvia de Krajina anunciando também a intenção de se separar da Croácia caso esta declarasse a independência da Jugoslávia.

Quando a Croácia declarou unilateralmente a independência sob a presidência de Tudjman, restableceu a moeda e a antiga bandeira da Croácia fascista, recupera alguma simbologia ustachi, e adopta uma atitude condescendente em relação ao negacionismo do genocídio de sérvios nos anos 40. – Como se sabe, o regime croata pró-nazi de Ante Pavelic entre 1941 e 1944 promoveu o genocídio de mais de 1 milhão de pessoas entre sérvios, ciganos, judeus etc.

Também a Constituição do novo Estado Independente é significativa. Define a Croácia como o país dos Croatas, excluindo deliberadamente qualquer referência a Sérvios, Ciganos, Judeus ou Muçulmanos.

As preocupações são tão evidentes que num relatório patrocinado pela então CEE, o Relatório Badinter, se adverte que a Croácia não garante o respeito pelas minorias.

Perante a declaração de independência croata, a Região Autónoma da Krajina e a Região Autónoma da Eslavônia, Baranja e Srijem Ocidental, declaram-se como um único Estado sérvio dentro da Croácia, proclamando-se como república independente com o nome de República Sérvia da Krajina.

Este estado não foi reconhecido internacionalmente o que colocou esta a minoria sérvia à mercê do ódio da maioria fascista croata. Começam os confrontos entre sérvios e croatas. O Exército Popular Jugoslavo entra na Krajina para combater ao lado dos sérvios desta região. É aqui se coloca uma das grandes interrogações da história: Enquanto algumas versões defendem que o exército jugoslavo entrou para reconquistar a Croácia, muitas outras versões defendem que a entrada do exército jugoslava foi inevitável para defender a sobrevivência da minoria sérvia da Krajina.

É a partir daqui e com todos estes precedentes que começa a guerra na Jugoslávia.

No deliberado silenciamento de algumas verdades, fica também a operação militar relâmpago croata sobre a Krajina designada como "Operação Tempestade". Nesta operação, 100.000 soldados croatas apoiados por 150 carros de combate, 200 carros de transporte, 40 lançadores de misseis atacaram a região sérvia da Krajina e expulsaram cerca de 200 mil sérvios que sempre viveram ali. As tropas ocupantes abateram os anciãos que não conseguiram fugir e pegaram fogo a 85% das casas abandonadas. Alguns analistas independentes reconheceram poucos anos depois esta situação como “talvez a maior limpeza étnica desta guerra e a única que o "Ocidente" não tentará remediar”.

Com a agravante de nesta altura a região de Krajina estar já sob a proteção da ONU que não esboçou qualquer tipo de reação.

Para se avaliar os dois pesos e as duas medidas utilizadas pelas super-potências no julgamento de cada um dos contendores, registe-se que Bill Clinton considerou na altura a ofensiva croata como "útil". O seu secretário de estado, Richard Holbrooke, foi mais longe e afirmou: «A reconquista de Krajina pode conduzir a uma nova situacão estratégica que nos pode ser favorável para as negociações.». Ou seja, a limpeza étnica por parte dos croatas... não era relevante. O drama de milhares de famílias sérvias que foram obrigadas a fugir ficaram sem casa sem emprego e sem nada... não era relevante. As atrocidades contra os sérvios e o assasínio de velhos indefesos que não consegiram sequer fugir... não era relevante.

A diferença estava em que estes crimes eram praticados pelos amigos e protegidos do "ocidente". Como tal, estes tinham luz verde.

Milan Rados, Professor da Universidade do Porto e especialista em Estudos Europeus e Política Externa, em entrevista concedida ao Jornal Público há poucos dias, dizia:
«A América, os aliados e toda a opinião pública ocidental considera os sérvios como os únicos culpados por aquilo. Qualquer pessoa que vive lá sabe que não. Os sérvios fizeram muita coisa mas os outros também. Os sérvios são os maus, maus, maus e isto é demais

Estes e outros factos que aqui podiam ser citados, também são uma parte importante da história do conflito Jugoslavo e uma parte importante para a compreensão do desenrolar dos acontecimentos até hoje. Curiosamente, vão sendo convenientemente sonegados da maior parte das análises com que me tenho deparado.



publicado por vermelho vivo às 20:02
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