Já algumas vezes neste blog escrevi que, sobre os grandes acontecimentos políticos, bélicos e sociais existem sempre duas verdades paralelas: a verdade oficial e a verdade oculta.
A verdade oficial é aquela que nos é impingida pelo poder dominante, difundida massivamente pelos orgãos de comunicação social do sistema e aquela que predomina na opinião pública, dando fundamento aquela velha máxima: “uma mentira incessantemente difundida, transforma-se numa verdade absoluta”.
A verdade oculta é aquela que fica nos documentos secretos, que é escondida pelo poder dominante, e ignorada e escamoteada, nuns casos consciente noutros inconscientemente, pelos órgãos de comunicação social. Ou seja, a verdade oculta é isso mesmo, a que fica arredada da opinião pública.
Na história que conhecemos, a verdade oficial predomina durante muitos anos e até décadas. A verdade que é ocultada apenas é conhecida muitos anos passados sobre os factos e quando se prevê que já não possa causar estragos de monta.
No entanto, a verdade oficial é difundida massivamente, em grandes parangonas e sempre acompanhada de inúmeras opiniões e análises produzidas pelos analistas e “opinadores” do poder dominante. A verdade ocultada quando é tornada pública, é difundida em rodapés e de forma passageira. Como facilmente se depreende, mesmo após a constatação da verdade (que afinal não era aquela que nos impingiram), esta passa despercebida à maioria dos cidadãos. Assim, na prática, a verdade histórica continuará a ser aquela que nos impingiram massivamente no momento certo e na dose adequada.
Esta teoria comprova-se através de inúmeros casos que vão desda a intervenção no Iraque e no Afganistão, à suposta ditadura Chavista na Venezuela, aos contornos que levaram à queda do bloco leste, aos factos que envolveram e estiveram na origem da contra-revolução em Portugal, ao derrube do governos democráticos do Chile, da Nacarágua, recentemente das Honduras, aos voos da CIA sobre portugal, e até a esta suposta inevitabilidade da crise e das suas consequências para o povo e os trabalhadores. Enfim... Estes são apenas alguns exemplos de como a verdade oficial massivamente difundida se impôe como verdade absoluta e e supostamente incontestável perante os cidadãos.
Mais tarde - em alguns destes exemplos tal já aconteceu - a verdade ocultada será desvendada e revelará então as verdadeiras razões de tanta mentira.
Vem isto a propósito do relatório de Dick Marty sobre o tráfico de órgãos humanos no Kosovo entre 1999-2000.
Dick Marty, no seu relatório implica os líderes do Kosovo ligados ao partido UCK, de se envolveram em tráfico de órgãos retirados de prisioneiros, a maioria sérvios, e acusa o actual primeiro-ministro Kosovar, Hashim Thaçi, de ser o líder desses bandos e ter comandado o crime organizado no Kosovo.
E vem a propósito porque, por um lado a origem e o desenvolvimento da guerra dos Balcãs é uma das maiores farsas da história europeia recente, por outro, trouxe-me à memória uns textos que escrevi aqui neste blog após a proclamação da independência do Kosovo onde afirmava: “...deu-se como consumado o êxito da operação, com o reconhecimento pelos EUA e alguns países europeus do Kosovo como país independente. Proclamado unilateralmente por um governo constituido por aqueles que há uns anos se constituiram em bandos de máfia e proliferaram através do tráfico de armas e da prática de terrorismo.”
Mas voltando ao relatório de Dick Marty, ele aponta a existência de vários centros de detenção, para extração de órgãos, todos localizados na Albânia: Cahan, Rripe, Burrel, Kukës e especialmente Fushës-Krujë.
Dick Marty justificou este relatório:
"Os testemunhos que sustentam nossas conclusões sugerem de forma credível e coerente uma metodologia para a matança de todos os presos, geralmente por uma bala na cabeça, um pouco antes de serem operados para a extração de um ou vários órgãos. Descobrimos que se tratava principalmente de um tráfico de rins retirados dos cadáveres".
E foi mais fundo e muito claro ao afirmar: “Estou chocado. Muitos organismos internacionais sabiam dos factos. Mas preferiram ficar em silêncio por razões de conveniência política”.
"...Os países ocidentais que se engajaram no Kosovo preferiram evitar o combate de campo, recorrendo a ataques aéreos, o UCK tornou-se num aliado indispensável para as operações terrestres. Desse modo, preferiram ignorar os crimes de guerra cometidos pelo aliado em troca da estabilidade imediata".
E pronto, só passados 10 anos algumas verdades começam a ser desvendadas, e reforço: apenas algumas verdades. Continuo a afirmar que a verdadeira história dos balcãs está ainda por contar. No entanto, os objectivos do imperialismo americano e os interesses expansionistas alemães estão praticamente consumados e a verdade quando for tornada pública (em notas de rodapé e de forma ligeira) não terá mais relevo ou consequências do que isso mesmo: apenas a devida importância para a reposição da verdade histórica.
E passados 10 anos, é esta a interrogação que o jornal alemão Tageszeitung coloca: "É possível que, por ordem de um primeiro-ministro de um Estado europeu, possam ter sido raptadas pessoas? Que as tenha mandado assassinar, para poder retirar órgãos dos seus cadáveres, como rins, por exemplo, destinados a clientes ricos da Alemanha, Canadá, Polónia ou Israel, pagos a 45 mil euros por transação? É possível que Hashim Thaçi, o primeiro-ministro do Kosovo, ao qual Berlim, Londres, Paris e Washington atribuíram um apoio tão unânime, deva o seu poder político à riqueza acumulada graças a atividades criminosas?"
E respondo eu: Pois... A resposta é muito simples: os interesses do imperialismo americano e da Alemanha, estão muito, mas mesmo muito, acima disso!
Sobre os Balcãs, escrevi alguns textos por aqui:
O expansionismo alemão e a Jugoslávia
A verdade oficial e a verdade oculta (I)
A verdade oficial e a verdade oculta (II)
A verdade oficial e a verdade oculta (III)
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