Estamos no final da campanha para o referendo sobre a IVG. Uma campanha bastante ruidosa mas nem sempre esclarecida e esclarecedora. Nem sempre esclarecida e esclarecedora muito por culpa do NÃO que deitou mão a uma série de argumentos desviantes, duvidosos e insustentáveis que nada têm a ver com a questão colocada em referendo. A chantagem do Clero sobre os seus fieis incutindo-lhes ameaças morais e religiosas imcompreensiveis num país civilizado no século XXI também fizeram parte deste ruído, Clero este, que condena a IVG mas que oficialmente continua a condenar o uso do preservativo como método contraceptivo (talvez defendam como solução ideal que sejamos todos abstinentes).
Assistimos ao ridículo de ver os lideres e outros dirigentes partidários do PSD e CDS/PP a defender medidas para combater o aborto contrárias às politicas que praticaram durante os anos em que foram governo maioritário (Bagão Félix já não deve lembrar-se dos direitos que retirou aos trabalhadores e à protecção da maternidade no emprego com o novo código do trabalho), o ridiculo de dizerem que vão fazer agora o que nunca quizeram fazer antes, o ridículo de defenderem o voto no NÃO e prontificando-se a levar posteriormente ao parlamento uma lei que isente a mulher da punição. E neste caso, a mulher seria despenalizada, mas não sendo a IVG legal, onde poderia fazê-la? no estrangeiro? no “vão de escada” como até agora?
Pura hipocrisía, o único grupo parlamentar que defendeu a discussão e aprovação da despenalização em sede própria, a Assembleia da República, foi o da CDU, contra o voto favorável do PS, PSD e BE e a abstenção do CDS/PP pelo referendo. Estes e outros argumentos, mais não são que atestados de menoridade mental ao povo português, fazem parte do tal ruído que a bem do esclarecimento e da coerência com as atitudes práticadas, eram perfeitamente evitáveis.
Aqui no Blog, pronunciei-me algumas vezes e assumi a campanha pelo SIM, assumo esta posição e a campanha porque acredito convictamente que é a única solução para acabar com o problema da clandestinidade, da hipocrisía da lei e instaurar um valor inequívoco de liberdade delegando na mulher o direito de decidir sobre si, sobre o seu corpo e sobre a sua vida. Liberdade porque a despenalização não vai obrigar nenhuma mulher a recorrer à IVG permitindo assim o direito e a liberdade de opção. Não quis ser exaustivo em post's porque acho que “branco é, galinha o põe” e é perfeitamente evidente que só a despenalização pode resolver o que a lei actual, este governo e os anteriores ou os acérrimos defensores do NÃO foram incapazes ou não tiveram vontade de resolver até agora, como o recurso à clandestinidade, as mortes, os traumas psicológicos, as mazelas no aparelho reprodutivo causados pelo “vão de escada”, a humilhação da mulher perante a sociedade ou o previlégio de uma classe rica com dinheiro para se deslocar ao estrangeiro e abortar sigilosamente em contra-ponto com a descriminação das mulheres mais desfavorecidas que se deslocam... à clandestinidade.
Desde sempre que sou totalmente contra este referendo, esta é uma questão de lei e consciência, pela lei devem responder os governos e os deputados, pois é para isso que são eleitos, pela consciência deve responder cada um.
O Referendo serviu apenas para demonstrar a falta de coragem da maior parte dos nossos eleitos quando se trata de decidir sobre matérias que podem provocar perda de votos e para se gastarem milhões de euros num processo de referendo para aligeirar as responsabilidades de quem é eleito e pago para decidir (honra seja prestada aos deputados da CDU que votaram contra o referendo e defenderam a votação deste tema no parlamento).
Não utilizaram o mesmo critério quando a decisão se justificava plenamente como aconteceu por exemplo com a entrada na moeda única.
Mas o que a realidade nos oferece é a decisão atravéz do referendo, como tal, espero que este seja uma prova de participação cívica e que à terceira vez, tenhamos um referendo que seja vinculativo.
É importante que o povo português não negligencie um excelente instrumento de democracia como é a possibilidade de poder referendar e decidir sobre questões importantes para os cidadãos e para o país.
Por isso, Domingo vamos todos votar!!!
e já agora... VOTAR SIM!!!
Este Blog, é também um espaço de solidariedade, nesse sentido, e mesmo estando fora da esfera regional onde a luta se desenvolve (Lisboa), Vermelho Vivo, manifesta a sua solidariedade à luta protagonizada pelos pais das crianças da Fundação D. Pedro IV.
Sendo eu um defensor de uma intervenção directa das associações de pais na vida activa das escolas e inclusive membro de uma destas associações, não podia ser de outra maneira.
Vermelho Vivo deseja aos pais destas crianças o sucesso da sua luta.
Aqui ficam links para toda a informação das causas desta denúncia:
Os Gato Fedorento conseguiram colocar em humor a "palestra" do professor MRS no blog "ASSIM NÃO" sobre o qual me refiro no post "Paradoxos". Para quem não viu, aqui fica:
"Do ponto de vista da História, Salazar terá sempre um lugar, que só os historiadores situarão com maior ou menor rigor (como sucede hoje a outros estadistas que foram, eles também, dirigentes inclementes, como D. João II ou o Marquês de Pombal). Cunhal, por mais que os votos dos militantes comunistas entrem nas urnas do programa da RTP, nem como resistente ocupará mais do que duas das linhas dos compêndios históricos."
É com esta previsão extraordinária que o jornalista José Manuel Barroso termina o seu “artigo de opinião” impregnado de um anti-Comunismo primário e bafiento sobre a eleição do maior português de sempre, no DN de terça-feira, 30 de Janeiro de 2007.
O Sr. José Manuel Barroso, provavelmente, ainda hoje não encontra uma explicação para o facto de mais de 200.000 pessoas estarem presentes no funeral de Álvaro Cunhal, naquele que foi o maior funeral de sempre realizado em Portugal.
Nas cerimónias fúnebres de Salazar, segundo me contam, também era um mar de gente em Lisboa, mas também me contam que todos os funcionário públicos tiveram tolerância de ponto para serem conduzidos, em autocarros pagos pelo estado a Lisboa e quem não fosse nos autocarros e não justificasse a falta, era alvo de processo.
Também o PCP disponibilizou transporte a quem quis assistir ao funeral de Álvaro Cunhal, é verdade, mas quem embarcou nos ditos fez-lo voluntáriamente e com o sincero propósito de prestar homenagem a Álvaro Cunhal (não a última! porque a grande homenagem a Cunhal, continua a prestar-se na luta que milhares de comunistas e outros democratas travam diáriamente seguindo o seu exemplo).
O Sr. José Manuel Barroso provavelmente não conseguiu perceber o que disseram algumas figuras públicas, jornalistas e povo anónimo,
“Álvaro Cunhal representa muito mais que ele próprio. Representa os milhões de portugueses e de portuguesas que durante décadas lutaram contra o fascismo e contra o capitalismo. Submetido à clandestinidade, à prisão, à tortura e ao exilio. Soube, juntamente com os seus camaradas, organizar um Partido que resistiu na clandestinidade e contribuiu através da sua obra para o enriquecimento do desenho, da literatura, do pensamento político.”
“Muitos anos passarão até que volte a nascer entre nós um homem com a dimensão de grandeza de Álvaro Cunhal.”
“De entre as mais ricas e fascinantes personalidades do século XX português, avulta sem dúvida a de Álvaro Cunhal, pela aliança rara de inteligência e coragem, de firmeza e equilíbrio que o seu percurso político e revolucionário a cada passo atesta.”
"Álvaro Cunhal foi um homem grande, cuja vida é inseparável da história do século XX.”
Mas enfim, o Sr. José Manuel Barroso não entende estas opiniões e pensa diferente.
Quanto ao programa em si, trata-se apenas e somente de um concurso, por isso, vale o que vale, interessante do ponto de vista mediático, mas nunca um instrumento de avaliação séria e aferidora relativamente ao maior português. Basta observar a presença em peso do mundo futebolístico nos 80 primeiros nomeados, Pinto da Costa, José Mourinho, Figo, Cristiano Ronaldo, Vítor Baía, Eusébio (talvez o único merecido), ou a presença de Ricardo Araújo Pereira dos Gato Fedorento, ou ainda, pasme-se, Hélio Pestana, actor dos morangos com açucar, para se perceber a mistura entre a grandeza de uns e o mediatismo de outros e a incapacidade de descernimento entre eles na votação. No entanto, se o concurso conduzir ao conhecimento mais aprofundado e mais factual da vida e obra destas personalidades e despertar a curiosidade dos portugueses para estes, então já é um enorme contributo prestado pelo concurso.
Já agora, confesso que mesmo assim, também votei. Não sei se é possivel avaliar entre a importância de D. Afonso Henriques, fundador deste Portugal e Fernando Pessoa com um legado literário impar. Nem sei se é possivel comparar a grandeza humana de Aristides Sousa Mendes com a importância dos descobrimentos de Vasco da Gama.
Nesta complexidade, votei na personalidade que me parece ter marcado profundamente e de forma mais transversal a sociedade portuguesa e o século XX e aquela que foi e continuará a ser uma referência em várias vertentes para milhares de portugueses.
Votei na personalidade que foi ímpar na política, tanto em tese como em prática, antes e depois do 25 de Abril, foi excelente na literatura, com obras extraordinárias quer ao nivel do ensaio ou do romance, e nas artes plásticas com desenhos e pinturas de uma sensibilidade e qualidade extremas. Foi um exemplo de coerência, coragem e de sacrifício físico e psicológico sofrido através da prisão, da tortura, do isolamento ou da clandestinidade em nome de um ideal. Foi um dos principais obreiros, juntamente com muitos outros camaradas, para a queda do fascismo e para a defesa do povo e dos trabalhadores portugueses. Foi figura reconhecida e influente mundialmente pelos movimentos progressistas. Tinha uma ligação profunda com o povo português como o demonstraram as suas cerimónias fúnebres.
Por tudo isto e pela complexidade expressa em cima, votei em Álvaro Cunhal. E ainda porque ao votar em Álvaro Cunhal estou a ir mais além e votar também nos milhões de portugueses e portuguesas que como ele, durante décadas lutaram contra o fascismo.
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