"Quem luta, nem sempre ganha, mas quem não luta, perde sempre!"

 
Quinta-feira, 13 de Setembro de 2007
Uns e outros...

A curiosidade provocada pelo comentário da Magnolia (a quem agradeço a dica) sobre a reportagem de Miguel Esteves Cardoso no Avante, na Revista Sábado, levou-me a ler a revista e a referida reportagem.

Não resisti a não publicar alguns excertos desse texto aqui. E publico-os pela simples razão de que após tantos disparates que tenho lido, estas também são as palavras e a visão de um não-comunista. Sendo que nesta condição não pode ser acusado de Juiz em causa própria.

Aqui vai (os negritos são da minha autoria):

 
“Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante!. Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a Segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça!, Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei? ...

 
...As festas do Avante, por muito que custe aos anti-comunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça... Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo... Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história... E talvez sejam. Basta completar a frase "Se não fossem os comunistas, hoje não haveria..." e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas " que lhe devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão. ...

 
... Mas não é só por isso que a Festa do Avante faz medo. Também porque é convincente. Os comunas não só sabem divertir-se como são mestres, como nunca vi, do à-vontade. Todos fazem o que lhes apetece, sem complexos nem receios de qualquer espécie. Até o show off é minimo e saudável.
Toda a gente se trata da mesma maneira, sem falsas distâncias nem proximidades. Ninguém procura controlar, convencer ou impressionar ninguém. As palavras são ditas conforme saem e as discussões são espontâneas e animadas. É muito refrescante esta honestidade. É bom (mas raro) uma pessoa sentir-se à vontade em público. Na Festa do Avante é automático.
Dava-nos jeito que se vestissem todos da mesma maneira e dissessem e fizessem as mesmas coisas - paciência. Dava-nos jeito que estivessem eufóricos; tragicamente iluminados pela inevitabilidade do comunismo - mas não estão. Estão é fartos do capitalismo - e um bocadinho zangados. ...

 
...Sabe bem passear no meio de tanta rebeldia. Sabe bem ficar confuso. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias. ...

 
...A Festa do Avante é sempre maior do que se pensa. Está muito bem arrumada ao ponto de permitir deambulações e descobertas alegres. Ao admirar a grandiosidade das avenidas e dos quarteirões de restaurantes, representando o país inteiro e os PALOP, é dificil não pensar numa versão democrática da Exposição do Mundo Português, expurgada de pompa e de artifício. E de salazarismo, claro.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava-nos jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideológicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. ...

 
... As brigadas de limpeza por sua vez, estão sempre a passar, recolhendo e substituindo os sacos do lixo. Para uma festa daquele tamanho, com tanta gente a divertir-se, a sujidade é quase nenhuma. É maravilhoso ver o resultado de tanto civismo individual e de tanta competência administrativa. Raios os partam.
Se a Festa do Avante dá uma pequena ideia de como seria Portugal se mandassem os comunistas, confessemos que não seria nada mau. A coisa está tão bem organizada que não se vê. Passa-se o mesmo com os seguranças - atentos mas invisiveis e deslizantes, sem interromper nem intimidar uma mosca. ...

 
...Quando se fala na capacidade de “mobilização” do PCP pretende-se criar a impressão de que os militantes são autómatos que acorrem a cada toque de sineta. Como falsa noção, é até das mais tranquilizadoras. Para os partidos menos mobilizadores, diante do fiasco das suas festas, consola pensar que os comunistas foram submetidos a uma lavagem ao cérebro.
Nem vale a pena indagar acerca da marca do shampô.
Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do avante enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes.
E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre “nós” dirigentes e “eles” militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. ...

 
...É uma sólida tradição dizer que temos de aprender com os comunistas... Infelizmente é impossível. Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. ...

 
...A verdade é que se sente a consciência de que as coisas, por muito más que estejam, poderiam estar piores. Se não fossem os comunistas: eles.
Há um contentamento que é próprio dos resistentes. Dos que existem apesar de a maioria os considerar ultrapassados, anacrónicos, extintos. Há um prazer na teimosia; em ser como se é. Para mais, a embirração dos comunistas, comparada com as dos outros partidos, é clássica e imbatível: a pobreza. De Portugal e de metade do mundo, num Portugal e num mundo onde uns poucos têm muito mais do que alguma vez poderiam precisar. ...

 
...Resistir é já vencer. A Festa do Avante é uma vitória anualmente renovada e ampliada dessa resistência. ... Verdade se diga, já não é sem dificuldade que resisto. Quando se despe um preconceito, o que é que se veste em vez dele? Resta-me apenas a independência de espirito para exprimir a única reacção inteligente a mais uma Festa do Avante: dar os parabéns a quem a fez e mais outros a quem lá esteve. Isto é, no caso pouco provável de não serem as mesmíssimas pessoas.
Parabéns! E, para mais, pouquíssimo contrariado.”

 

NOTA FINAL: Esta reportagem de Miguel Esteves Cardoso, é uma grande bofetada aos muitos escribas da imprensa submetidos à vontade do capital e a muitos outros supostos jornalistas incapazes de despir o preconceito anti-comunista primário enquando escrevem o que devia ser informação isenta e imparcial.



publicado por vermelho vivo às 23:50
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7 comentários:
De magnolia a 14 de Setembro de 2007 às 09:32
Fico contente que tenhas tido a paciência que eu não tive para colocar aqui quase todo o artigo do MEC. No meu serviço, andei a fazer "propaganda" da reportagem aos maiis anti-comunistas que tiveram de ficar de boca fechada, não querendo deixar de ser inteligentes. A verdade é que a maioria dos artigos que surgem nos jornais sobre a festa, são escritos de cor por idiotas que nunca lá puseram os pés e, aqueles que o fizeram vêem sempre o que lá não está e viram a cara ao evidente.


De POESIA-NO-POPULAR a 14 de Setembro de 2007 às 10:44
É reconfortável, no tempo que corre e neste Pais, constatar-mos , que alguém (que não é comunista) teve a coragem de dizer a verdade sobre a FESTA do AVANTE.
Obrigado M.E.C . não por ter dito a verdade mas pela coragem.
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É reconfortável, no tempo que corre e neste Pais, constatar-mos , que alguém (que não é comunista) teve a coragem de dizer a verdade sobre a FESTA do AVANTE. <BR>Obrigado M.E.C . não por ter dito a verdade mas pela coragem. <BR class=incorrect <a name="incorrect">josé</A> /A&gt; manangão <BR>


De João Filipe Rodrigues a 14 de Setembro de 2007 às 11:28
Pois é.
De facto o Miguel Esteves Cardoso mostrou a diferença relativamente aos outros jornalistas. Considero que o fez por já ter alcançado uma reputação no meio jornalistico.
Esta reportagem demonstra que ele este lá e escreveu o que viu.
No entanto apenas chamo a atenção, na próxima semana ele vai atacar, ai se vai.


De vermelho vivo a 14 de Setembro de 2007 às 12:23
Caro amigo Filipe,
Não me iludo quanto ao Miguel Esteves Cardoso.
Apenas quis realçar a opinião sincera de alguém que está totalmente distante dos comunistas, com a desonestidade e o preconceito de muitos daqueles que escreveram artigos sobre a Festa. Alguns deles, provavelmente sem sequer lá porem os pés.
Um grande abraço


De Aristides a 14 de Setembro de 2007 às 15:16
Por essa e por outras deixei hoje de ser assinante e coleccionador da Visão (que tenho desde o primeiro número). Tiveram o descramento de ignorar, pura e simplesmente, a Festa do Avante. Não resisiti e deixei de ser assinante, não sem enviar uma carta ao Director que se pode ler no meu blogue e onde lhe digo algumas verdades. O DN, o Público e a RTP são as vergonhas costumeiras. Por isso li com agrado a crónica do MEC que, ao menos e por uma vez, fala verdade.


De gr-gr a 15 de Setembro de 2007 às 00:34
No domingo, após ter terminado um dos meus turnos fui ao Café da Amizade. Sentei-me na companhia de alguns camaradas. Atrás de mim, muito bem sentado e acompanhado estava o MEC muito discreto, com um pequenino bloco de notas, escrevia. É natural, um jornalista que se preze regista, observa, apercebesse de muitos pormenores que a muito de nós nos escapam ou nem queremos saber deles! Para além de nós, dele (e de outras centenas de visitantes no local) apareceu naquele aprazível lugar, uma simpatiquíssima intrusa, uma Toupeira!
Escavava velozmente grandes buracos. Todos espreitavam e comentavam e rapidamente o centro das atenções foi, a Toupeira.
O MEC com um sorriso (simpático), lá ia deitando o olho para a nossa mesa, esperando como nós, que a Toupeira saísse da toca (o que não sucedeu!).
Estava com um ar visivelmente satisfeito e calmo.
Sinceramente, foi-me totalmente indiferente a sua presença, até porque qualquer um é livre de entrar na FA!
Gostei da sua crónica! Sabendo que é um burguês anticomunista (ele não o esconde), teve a ousadia de escrever a verdade. Como estamos tão habituados a ler crónicas com notícias forjadas, bolçando ódio, inventando mentiras que nos admiramos quando alguém faz uma reportagem, com esta coragem! Na realidade o MEC, mais não fez que de dizer a verdade e o que sentiu no momento em que lá esteve!
Para a próxima vez…toda a porradinha que vier já não vai ser comentado, pois é o normal e já estamos habituados!

GR


De Vânia a 20 de Setembro de 2007 às 20:54
Grande reportagem, essa!
Pelo menos, 100 em cada 100 portugueses deviam ter lido! ;o)


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