Não me encontro entre aqueles que pretendem situar a questão Kosovar à falsa limpeza étnica do final dos anos 90 e à necessidade de solucionar o problema dos coitadinhos dos Kosovares. Esta visão do problema que se tenta vender por todos os meios é simplesmente adulterar a história do conflito e branquear as ingerências e a sujidade existente em todo o processo de desmembramento da Federação Jugoslava.
Após a dissolução do Pacto de Varzóvia e o fim do socialismo no leste europeu, a República Socialista Federal da Jugoslávia manteve-se inabalável no seu percurso socialista, não se vergando ao monopólio capitalista nem à NATO. Para a Alemanha e os EUA, isto era como uma espinha cravada no coração europeu.
A Alemanha, impulsionada pela queda do muro de Berlim e pela união entre as duas alemanhas, alimentando o sonho imperialista de grande potência da europa, deu seguimento prático ao trabalho que já vinha sendo desenvolvido pelos seus serviços secretos sob orientação de Klaus Kinkel que viria a ser mais tarde ministro dos negócios estrangeiros alemão: A desunião entre as regiões e as etnias que compunham a Federação Jugoslava com objectivos claros de destruir esta federação. Incentivando e empurrando a Eslovénia e a Croácia, para a separação da Jugoslávia, a Alemanha veio a ser fundamental em todo este processo.
Cumprindo mais uma etapa no processo conspirativo, a Alemanha e a Austria anteciparam-se a reconhecer as independências da Eslovénia e da Croácia, declaradas unilateralmente por estas regiões. A Alemanha não só reconheceu as independências, como forçou esse reconhecimento aos outros países da UE.
Sintomático para se perceber tudo isto, são alguns factos indesmentíveis como:
Após o anúncio unilateral de independência destas regiões, a Eslovénia a 21 de Junho e a Croácia a 7 de Outubro de 1991, num encontro da Federação do Patronato Alemão com generais das Forças Armadas Alemãs, Bundeswehr, sob o lema “questões evidentes para os alemães”, o ministro da Defesa, Rupert Scholz expressava este extraordinário raciocínio: “o conflito na Jugoslávia tem um significado para toda a Europa; enquanto as consequências da segunda guerra mundial já foram superadas, trata-se agora de rever os resultados da Primeira Grande Guerra. A Jugoslávia tem sido uma construção artificial incompatível com o direito à autodeterminação dos povos... a Croácia e a Eslovénia têm de ser imediatamente reconhecidas. Logo que esse reconhecimento se processar, então já não se trata de um conflito interno da Jugoslávia e uma intervenção internacional será possível”.
Enquanto a ONU fazia todos os esforços para evitar uma escalada do conflito, a Alemanha continuava a sabotar estas tentativas para uma solução pacífica. Assim, apressou-se a reconhecer isoladamente estas independências a 23 de Dezembro de 1991, contra a vontade de todos os membros da UE. Este reconhecimento prematuro levou o então secretário-geral da ONU, Peres de Cuellar, a dirigir uma carta ao ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Hans-Dietrich Genscher, avisando-o de que a Alemanha não estava a respeitar a decisão da cimeira extraordinária do Conselho de Ministros dos 12, realizada em Roma a 8 de Novembro de 1991, onde se estabelecera que «a possibilidade de um reconhecimento da independência das repúblicas federadas que o desejarem só será possível no quadro de um acordo que regule toda a situação na Jugoslávia…eu parto do princípio de que o senhor conhece a grande preocupação dos presidentes da Bósnia-Herzegóvina e da Macedónia e de muitas outras personalidades de que um reconhecimento precipitado e selectivo significará o alastrar do conflito numa região tão sensível. Um tal desenvolvimento teria consequências muito graves para os Balcãs e colocaria seriamente em perigo os esforços do meu representante pessoal, visando medidas que garantam a paz na Jugoslávia».
Também o mediador da U.E., Lorde Carrington, através de carta, se viu obrigado a avisar Bona de que estava a “estender o rastilho da guerra para a Bósnia”.
Todos os avisos e todas as preocupações demonstradas não obtiveram resultados e o plano inabalável da Alemanha com a ajuda da Austria e a cumplicidade dos EUA prosseguiu o seu caminho.
Como mais tarde o director da revista francesa Defénse Nationale e jornalista muito bem informado escreveria: «Os observadores alemães, muito bons conhecedores do sudeste europeu, não poderiam ignorar que devido à mescla de populações, ao arbítrio das fronteiras internas da federação iugoslava e à recordação das imensas matanças da segunda guerra mundial, a deslocação da Jugoslávia não seria pacífica. Antes que suscitaria fortes resistências. Apesar disso a política alemã comprometeu-se a fundo a favor do desmembramento do país.»
Estavam assim lançados os ingredientes para uma ruptura violenta da Federação Jugoslava e acesa a fogueira que viria a transformar-se num enorme incêndio nos balcãs.
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